Projeto leva sessões de psicanálise a presas da cadeia em Votorantim
terça-feira, 26 de julho de 2011Descobrir as necessidades, traumas e tudo que perturba o equilíbrio emocional para se autoconhecer e se relacionar melhor onde vivem. Esta é a proposta da Associação Cultura Votorantim ao levar um consultório de psicanálise para dentro da Cadeia Pública Feminina de Votorantim. A iniciativa, que tem a parceria do Instituto Brasileiro de Psicanálise (Ibraper) – A Casa da Psicanálise, realizou as primeiras sessões gratuitas de psicanálise ontem às detentas. “A intenção é atender duas a três por semana, toda quinta-feira”, contou o psicanalista Ricardo Ribeiro, que irá realizar as consultas.
As sessões terão 50 minutos em média, mas não será suficiente para atender todas as 202 presas – a Cadeia tem capacidade para apenas 48. “Sabemos que uma sessão não é suficiente para realizar um tratamento completo, porém já proporciona a percepção sobre as inquietações e pode desencadear em uma mudança positiva no comportamento”, explicou Ribeiro.
No consultório improvisado, elas falam sobre angústias, tristezas, ansiedades e perturbações diárias. “Poder desabafar com gente de fora é completamente diferente”, contou Arilma Maria dos Santos, 26 anos, presa há um por tráfico de drogas. Foi ela quem ajudou a organizar e agendar as consultas. Cada uma das oito celas escolheu duas representantes para indicar as prioridades de cada cela. “A maioria está animada e ansiosa para saber quando vai ser a vez delas”, disse.
Para Emilene Aparecida Alves de Lima, 36 anos, está na Cadeia pelo mesmo motivo de Arilma e confessa que a sessão ajudou a aliviar a tensão do dia a dia na Cadeira lotada. “Saí da consulta melhor que entrei. Com as palavras do médico, faz a gente pensar de forma diferente, entender melhor as coisas”, destacou.
De acordo com Werinton Kermes, diretor da Associação, o projeto visa a reeducação afetiva da pessoa, por meio da conscientização dos motivos que a levam a ter determinados comportamentos ou sintomas. “Buscamos sempre mostrar às reeducandas que elas têm capacidade e condições de iniciar uma nova fase em suas vidas”, enfatizou.
A proposta foi bem aceita pelo delegado interino de Votorantim, José Augusto Pupin. “É uma ferramenta importante para fazer com que a presa possa analisar sobre a vida no cárcere, ter estrutura para enfrentar isso e repensar sobre o ato cometido”, ressaltou. Para ele, projetos como este podem ser feitos em qualquer presídio do país. “Não é nada complicado. Basta ter boa vontade e uma ferramenta que funcione. Além de ser muito mais barato que manter os casos de reincidência”, finalizou.
A ação integra um projeto realizado pela entidade há dois anos no local, que busca a inclusão social das encarceradas através de projetos culturais, esportivos, e de comunicação, como é o caso do Programa TV Cela, realizado pelas próprias reeducandas.
Fonte: Portal Cruzeiro do Sul